Síndrome da impostora: vamos falar sobre ela?
Começo nosso papo de hoje com uma perguntinha: em algum momento da sua vida você já sentiu como se o seu sucesso não fosse mérito seu? Ter esse sentimento uma vez ou outra pode até ser comum, mas quando ele passa a ser algo frequente e até afetar comportamentos e relacionamentos, o alerta vermelho deve ser acionado, porque pode ser sinal da síndrome da impostora!
Esse fenômeno tá 100% conectado com as vivências e o estado de saúde emocional de cada um, e as mulheres são as que mais sofrem com ele, principalmente na vida profissional. Mas, apesar de ser um assunto que afeta o bem-estar mental, algo do qual (felizmente) vemos as pessoas falando cada vez mais, ele ainda gera algumas questões e até tabus.
E é muito importante trazer esse tema pras conversas, porque assim quem passa por ele se sente mais acolhido e confortável em procurar ajuda pra cuidar de si.
Por isso, hoje eu convido você pra um bate-papo sobre a síndrome da impostora, onde nós vamos desvendar juntas o que ela é, quais são seus sinais, causas e o que fazer quando ela é uma realidade pra você. Vem comigo?
Índice
O que é a síndrome da impostora?
Bem, de forma simples, a síndrome, ou fenômeno, da impostora é o sentimento de ser uma farsa, de não merecer o sucesso ou a vida que tem. É como sentir que o lugar onde você se encontra na vida não é seu por direito e que, a qualquer momento, todos podem descobrir e você vai ser “desmascarada”.
Vou colocar ela num exemplo mais real: sabe aquela amiga que tem um currículo cheio de conquistas acadêmicas e profissionais, mas que, por algum motivo, sempre se questiona sobre ser boa o suficiente pra posição que ocupa? Pode ser que você realmente conheça alguém assim ou que essa pessoa seja você, mas o fato é que a síndrome da impostora tá presente aqui.
É claro que essa não é a única forma dela se manifestar, tá? Mas o sentimento de insuficiência é sempre presente, porque, em algum momento, essa mulher aprendeu que suas capacidades e habilidades são superestimadas, mesmo com evidências claras de que elas são reais. E isso também se aplica na vida pessoal, no ambiente de estudos, no trabalho e qualquer outro setor da vida.
A sensação é de sempre existir um diálogo interno hostil, onde todo o sucesso e felicidade é questionado como sendo realmente mérito dela. E todo esse sentimento acaba gerando um estado constante de ansiedade, tensão e estresse, o que não é nada bom!
Um ponto importante aqui é que, apesar do nome que ela ganhou, a síndrome da impostora não é uma doença, tá bem? Tirar esse peso de patologia dela é super importante pra facilitar o acesso à busca por ajuda, que deve ser feita com acompanhamento de profissionais que cuidam da saúde mental e emocional.
Leia também: Mindfulness: bem-estar com inteligência emocional
Fique atenta aos sinais da síndrome da impostora
A gente viu agora pouco que um dos principais sinais da síndrome da impostora é a sensação de nunca ser suficiente pra algo que faz. Mas além dele, existem alguns outros indícios de que esse fenômeno possa estar presente na sua vida, olha só:
-
sensação de não pertencimento a algum ambiente, situação ou relacionamento;
-
sentimento de culpa por estar ocupando um lugar que não é seu e constante medo de ser “desmascarada”;
-
baixa autoestima/autoconfiança e dúvidas sobre a própria capacidade intelectual;
-
sensação de irrelevância em alguns ou todos os ambientes que frequenta;
-
autocobrança e perfeccionismo em tudo o que faz, carregados de um diálogo interno bem punitivo quando comete algum erro;
-
autossabotagem, impedindo a si mesma de fazer ou viver algo por não achar que é apta pra aquilo;
-
dificuldade em se apropriar das próprias conquistas;
-
relutância em receber e aceitar elogios — eles são normalmente vistos como mentiras;
-
exaustão mental e física, causada pelo constante estado de estresse.
Esses sinais não acontecem em uma ordem definida, nem precisam estar acontecendo todos de uma vez só pra que a síndrome exista. O que torna ela real é o efeito que sinais causam na sua rotina, porque quanto maior a repetição desses comportamentos, maiores são as chances deles te paralisarem e prejudicarem seu bem-estar mental.
O que pode causar a síndrome da impostora?
Bem, não existe uma única causa pra síndrome da impostora e é bem provável que ela seja resultado das vivências, traumas e repetições de comportamento que nós temos, ou fomos condicionadas a ter, ao longo da vida. Se você acha que esse problema pode estar te afetando, é importante procurar uma psicóloga ou psiquiatra pra investigar os possíveis gatilhos, tá bem?
Síndrome da impostora e as mulheres
Lembra lá no comecinho do nosso papo, quando eu disse que o fenômeno da impostora afeta principalmente as mulheres? Pois bem, isso foi até mesmo comprovado em uma pesquisa feita pela USP [1], onde mulheres que ocupam cargos de liderança foram entrevistadas e 56% delas acreditam não serem capazes de exercer suas funções. Bem preocupante, né?
Essa sensação de fraude que afeta o coletivo feminino tá muito atrelada a um ponto: os direitos das mulheres vêm sendo conquistados há muito pouco tempo, comparados com os direitos dos homens — que sempre existiram. Um exemplo disso é que, no Brasil, começamos a entrar com força real no mercado de trabalho, conquistando cargos de poder, só na década de 70.
Justamente por ser tão recente, existe essa sensação coletiva de “ainda estarmos nos encaixando” nesse ambiente, o que pode trazer o sentimento de não pertencimento, que é literalmente um dos maiores sinais do fenômeno da impostora.
Leia também: 7 mulheres que estão mudando o meio ambiente e a sociedade
Me sinto uma impostora, e agora?
Eu queria muito que a síndrome da impostora não fosse uma realidade tão gritante na nossa sociedade, e talvez um dia isso chegue a acontecer. Mas, até lá, é importante procurar os cuidados adequados se a gente sente que os sinais estão aí. Por isso, eu trouxe três dicas bem valiosas pra você cuidar de si e (re)conquistar seu bem-estar mental, anota aí:
1. Procure um profissional
Ninguém além dos profissionais de psicologia e psiquiatria pode te ajudar a identificar as causas da sensação de impostora. Por isso, eu sempre bato na tecla da busca pela terapia, pois é com ela que você vai se equipar com os recursos pra enfrentar esse problema através do autoconhecimento, que é a chave pra entender o nosso lugar no mundo.
2. Encontre uma rede de apoio
As amizades também têm papel fundamental, não só pro bem-estar de quem vive com o fenômeno da impostora, mas pra todo mundo. Sabe aquela pessoa, ou aquele grupo, com quem você sempre se sente à vontade pra se abrir e compartilhar seus pensamentos, bons e ruins? Ter eles por perto como uma rede de apoio pode tornar o processo muito mais leve.
3. Seja gentil com você mesma
Ter uma boa relação consigo é super importante e, assim como qualquer outro relacionamento que temos na vida, ela deve ser construída diariamente. Nem sempre vamos estar no nosso melhor dia e, quando os momentos mais desafiadores vêm, é importante manter um diálogo interno gentil com você mesma.
Não se cobre por errar ou não conquistar algo de primeira, até porque isso é muito mais comum do que alcançar sucesso em tudo na primeira tentativa. Ser compreensiva consigo, com total consciência do seu momento atual e das suas limitações (afinal, a perfeição não existe, né?) abre caminho pra uma vida com muito mais autocuidado, paz interior e segurança sobre quem você é.
O papo de hoje tá chegando no fim, mas esse tema não precisa ser encerrado. Que tal compartilhar esse conteúdo com mais gente, abrindo caminho pra quebrar de vez os tabus em torno desse assunto? E se você quer aprender sobre novas formas de viver com mais calma, respeitando o seu próprio tempo, aproveite pra ler também meu post sobre Slow Living.
A gente se fala em breve!
Referências bibliográficas
[1] Instituto de Psicologia USP. Síndrome da impostora, 19 de maio de 2021. https://www.ip.usp.br/site/noticia/sindrome-da-impostora/